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Para tratar as queimaduras nas patas de onças pintadas feridas nos incêndios recentes do Pantanal, os médicos-veterinários do Instituto No Extinction (NEX), de Corumbá (GO), utilizaram ozonioterapia e células-tronco para cuidar dos ferimentos. A fêmea resgatada, batizada de Amanaci (deusa da Chuva, em tupi-guarani), vem sendo tratada com células-tronco para regenerar os tecidos e músculos das patas queimadas. O macho Ousado já voltou para casa, esta semana, e foi solto no Parque Estadual Encontro das Águas, no Pantanal. Para se recuperar, ele passou por sessões de laser e de ozônio.

A boa notícia é que, a partir de agora, as terapias estão regulamentadas e os médicos-veterinários podem exercê-las como práticas clínicas para tratar animais, conforme as Resoluções nº 1363 e 1364 do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), publicadas hoje no Diário Oficial da União (DOU). A data é especial para a autarquia, pois marca os 52 anos de criação do Sistema CFMV/CRMVs, por meio da Lei nº 5.517, de 23 de outubro de 1968, que também disciplina o exercício profissional do médico-veterinário.

Para as terapias com ozônio ou células-tronco, os profissionais devem contar com o respaldo técnico que indique segurança e eficácia para o tratamento da doença, além da dose e via indicada, seja de forma isolada, adjuvante ou complementar. As resoluções definem que a indicação, a prescrição e o uso de células-tronco e ozonioterapia em animais são atividades clínicas privativas dos médicos-veterinários, que são responsáveis pela utilização de equipamentos e materiais apropriados e devidamente registrados nos órgãos competentes.

Como órgão orientador do exercício profissional, o CFMV se aproximou das entidades representativas de terapias ainda não regulamentadas. Dessa forma, pode ampliar o debate e ter conhecimento dos estudos necessários para subsidiar a análise que levou ao processo de normatização de terapias inovadoras, experimentais, integrativas e complementares.

“Comprometida com a inovação e a transparência, a atual gestão do conselho estabeleceu o diálogo com os profissionais que têm atuado pelo progresso da Medicina Veterinária e, com responsabilidade e conhecimento, estamos modernizando nossos normativos para garantir segurança jurídica a todos que trabalham com ética, zelo e compromisso pela saúde e bem-estar dos animais”, destaca o médico-veterinário Francisco Cavalcanti, presidente do CFMV.

As resoluções entram em vigor em 3 de novembro e os procedimento devem ser expressamente autorizados pelo proprietário, responsável ou tutor do animal. Os profissionais devem usar o termo de consentimento, conforme diretrizes da Resolução CFMV nº 1321, de 24 de abril de 2020.

Ozônio

A ozonioterapia é um serviço veterinário que usa o oxigênio (O2) e, a partir de uma descarga elétrica, o transforma em ozônio (O3). “O O3 é uma molécula instável, que reage com os tecidos, se dissocia e seus metabólitos irão exercer atividades bactericida, fungicida, anti-inflamatória e analgésica, de acordo com a concentração, dose e via de uso do ozônio”, explica o médico-veterinário Carlos Sarmento, que há três anos trabalha com a técnica em animais.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Ozonoterapêutas Veterinários (Abo3vet), o médico-veterinário Jean Fernandes Joaquim, a ozonioterapia pode ser indicada para quase todos os tipos de enfermidades, em algumas como principal tratamento de escolha e, em outras, como adjuvante terapêutico. “Em 2017 e 2018, publicamos dois artigos sobre o emprego do O3 em enfermidades neurológicas e ortopédicas, auxiliando no controle da dor e qualidade de vida”, afirma.

Atualmente, a Abo3vet conta com 400 associados, mas o presidente contabiliza que aproximadamente dois mil profissionais já trabalham com a técnica. Além de auxiliar em doenças musculares inflamatórias, como rotina em serviços de reabilitação, Joaquim explica que o ozônio tem sido aplicado como adjuvante em casos de doença renal crônica, processos infecciosos sistêmicos, lesões de coluna em geral, enfermidades do sistema digestório de origem inflamatória e enfermidades oftálmicas, além de doença articular degenerativa, como osteoartrose. “O O3 pode substituir alguns analgésicos ou ser combinado com eles e anti-inflamatórios, até para reduzir a dose e tempo de uso desses medicamentos”, revela.

Professor em cursos de graduação e pós-graduação, Sarmento afirma que a ozonioterapia já é reconhecida nos sistemas de saúde de vários países, como Itália, Espanha, Portugal, Rússia e algumas cidades dos Estados Unidos. “Temos comprovação científica bem vasta e diversos estudos publicados na PubMed [plataforma para pesquisa de publicações científicas da área da saúde] sobre ozonioterapia, os quais nos dão respaldo e segurança técnica”, diz.

Casos

A comprovação ele viu na prática, com a grave infecção uterina de uma égua. “Com três lavagens uterinas em dois dias zeramos a infecção”, conta. Houve uso de antibióticos nos mesmos dois dias de tratamento, mas o profissional credita a velocidade de resposta do organismo do animal à aplicação de ozônio. “Pela gravidade do quadro e sabendo do curto tempo de ação do antibiótico, acreditamos que o ozônio acelerou os efeitos positivos”, avalia.

Sarmento também tem conseguido bons resultados em uma ferida no dorso de um coelho. “Com três meses de aplicação de ozônio, conseguimos cicatrizar quase 100%”, relata. De forma adjuvante, o coelho recebeu tratamento com pomada de papaína e curativo de coloide, mas assim como a égua, a base do tratamento foi a ozonioterapia e, pela extensão da lesão, o profissional avalia que o O3 contribuiu na redução do tempo de resposta.

A ozonioterapia é democrática entre as espécies. Joaquim tratou um jabuti com uma ferida cirúrgica (fístula após faringostomia) aberta havia seis meses, apesar do tratamento convencional. “Com duas semanas de ozonioterapia, a lesão cicatrizou”, recorda. Já um bovino de 1200kg com lesão de coluna “foi tratado exclusivamente com ozonioterapia paravertebral e voltou a caminhar e coletar sêmen”, afirma.

Células-tronco

A célula-tronco é considerada um produto e deve ser registrado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para que possa ser utilizada na rotina da prática clínica. O alerta é da médica-veterinária Patrícia Furtado Malard, presidente da Associação Brasileira de Terapia Celular (ABTCEL).

“A regulamentação pelo CFMV é de extrema importância, visto que traz segurança para a utilização do produto pelos médicos-veterinários”, comemora. Além do registro do produto, Patrícia ressalta que o laboratório que produz as células-tronco precisa ser registrado no Mapa e no CRMV do estado de atuação.

“Agora que foi finalizada essa parte regulatória, vamos iniciar a divulgação da associação e a realização de cursos”, planeja.

Como funciona

As células-tronco são atraídas para o processo inflamatório e iniciam a liberação dos chamados biofatores. A médica-veterinária explica que elas são indiferenciadas [capazes de exercer várias funções], possuindo a capacidade de se transformar em alguns tipos de células e, principalmente, liberar citocinas e fatores de crescimento que vão promover a recuperação dos tecidos. “Isso melhora o funcionamento do microambiente celular, proporcionando qualidade de vida ao animal”, esclarece.

Além de recuperar tecidos, como ocorreu com as onças resgatadas no Pantanal, segundo Patrícia, o tratamento com células-tronco tem sido indicado para doença renal crônica em felinos, sequela neurológica de cinomose em cães, osteoartrose em cães e equinos, hipoplasia de medula em cães e dermatite atópica em cães.

Assessoria de Comunicação do CFMV

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